sábado, 28 de fevereiro de 2015

Do que precisamos afinal?

Se morrestes com Cristo para os rudimentos do mundo, por que, como se vivêsseis no mundo, vos sujeitais a ordenanças:
não manuseies isto, não proves aquilo, não toques aquiloutro,
segundo os preceitos e doutrinas dos homens? Pois que todas estas coisas, com o uso, se destroem.
Tais coisas, com efeito, têm aparência de sabedoria, como culto de si mesmo, e de falsa humildade, e de rigor ascético; todavia, não têm valor algum contra a sensualidade.
 Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus.
Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra;
porque morrestes, e a vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus.
Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então, vós também sereis manifestados com ele, em glória.  Cl 2.20-3.4 (ARA)

Os perigos que ameaçam a igreja


É natural que derrotas circunstanciais nos causem frustrações. Mas, pode ser que também experimentemos frustração diante de conquistas! Podemos por exemplo, desejarmos tanto uma pessoa, emprego, carro ou qualquer outro bem material a ponto de declararmos o quanto nossa vida e nossa realização dependem dessa conquista. Somente para depois de alcançarmos termos um sensação boa que dure algum tempo e então ficamos com o estranho sentimento frustrante de "não era bem isso que eu queria".  Esse tipo de frustração vai avolumando dentro de nós a pergunta "do que precisamos afinal?"

A carta aos Colossenses lida com essa pergunta da forma mais profunda possível. No contexto temos Paulo numa prisão em Roma, onde recebe a visita de Epafras (1.7;4.12). Eprafas, aliás é o provável plantador e pastor da igreja em Colossos, que trás um relatório da condição e dos perigos que ameaçam essa igreja. Impulsionado então por esses relatos Paulo escreve a carta de que dispomos. Colossos era uma pequena cidade na Ásia Menor, próxima de Hierápolis, Éfeso e Laodicéia. Conquanto fosse pequena Colossos era uma cidade próspera (embora já decadente na época da carta) e de cultura multifacetada, pois a população era bastante heterogênea. E é exatamente dessa mistura cultural que vem a preocupação do seu pastor Epafras (4.12,13). A carta de Paulo é então uma resposta às principais heresias que ameaçavam a igreja, vindas da mistura cultural local:

  • Ritualismo judaico, observância mistica de certos ritos judaicos.
  • Misticismo oriental, com uma dose de asceticismo (mortificação do corpo)
  • Revelações misticas especiais (Gnosticismo)
Toda essa mistura implicava na insuficiência de Cristo, pois eram adições ao puro evangelho. O que temos aqui então é uma espécie de pluralismo religioso, em que idéias conflitantes coexistem pacificamente e a mensagem fundamental e essencial fica diluída e enfraquecida. Essa também é uma dificuldade dos cristãos da atualidade, ou seja, um pluralismo que enfraquece o cerne da mensagem do evangelho sem, entretanto nega-la por completo. O gnosticismo incipiente que começava ameaçar a igreja de Colossos negava a primazia e a exclusividade de Cristo dissimuladamente fazendo adições às formas externas de religião, dando-lhe um aspecto de humildade e piedade. Entretanto o que Paulo via eram "vãs filosofias", "falsa humildade" e "as sombras das coisas que haviam de vir" sendo elevadas acima do que era essencial, "Cristo em vós, as esperança da glória". A heresia em Colossos negavam dissimuladamente Cristo como Senhor da criação, como verbo que se tornou carne, como aquele que tem a primazia, como o sustentador de todo o universo, como o detentor de "todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento" e principalmente como aquele "é a imagem do Deus invisível" e em quem reside "toda a plenitude".

"Cristo em vós esperança de glória"

A primeira parte da carta, portanto, é doutrinária onde Paulo combate aquela mistura perniciosa apontando principalmente para a exclusividade e suficiência de Cristo:
Este é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação;
pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele.
Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste.
Ele é a cabeça do corpo, da igreja. Ele é o princípio, o primogênito de entre os mortos, para em todas as coisas ter a primazia,
porque aprouve a Deus que, nele, residisse toda a plenitude. Cl 1.15-19
Gostaria, pois, que soubésseis quão grande luta venho mantendo por vós, pelos laodicenses e por quantos não me viram face a face; para que o coração deles seja confortado e vinculado juntamente em amor, e eles tenham toda a riqueza da forte convicção do entendimento, para compreenderem plenamente o mistério de Deus, Cristo, em quem todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos. Assim digo para que ninguém vos engane com raciocínios falazes. Cl 2.1-4  

"Se morrestes com Cristo" 

 A segunda parte é prática em que Paulo conclama os crentes de Colossos a viverem de modo digno da doutrina que receberam. Devem então se unir a Cristo na semelhança de sua morte e ressurreição. A morte é utilizada por Paulo como simbolo da separação daquela velha forma de pensar. Os "rudimentos do mundo" deveriam ser abandonados, por mais que parecessem piedoso ou sábio (2.20ss). Cristo não aceita adições aos seus ensinos, nem adoração decentralizada. Como diriam os reformadores a mensagem do evangelho é "Solus Christus". Embora o dissessem em relação a fé salvífica entendemos que  "a centralidade de Cristo é o fundamento da fé protestante. Martinho Lutero disse que Jesus Cristo é o "centro e a circunferência da Bíblia" (Solus Christus, Joel Beeke http://www.editorafiel.com.br/artigos). Morremos para tudo o que não se enquadra nessa forma de pensar. Morremos para toda expressão religiosa que não enxerga o mundo a partir de Cristo. Morremos para toda forma de culto que coloca o homem e sua suposta piedade no centro. Morremos para as vãs filosofias, para os preceitos meramente humanos. Morremos para tudo que não se baseia em Cristo somente.

"Se ressuscitates com Cristo"

O evangelho se caracteriza não apenas por aquilo que deixamos de fazer, mas também por aquilo que fazemos em contrapartida. Se a morte trás o simbolismo de tudo o que devemos deixar por causa de Cristo, a ressurreição trás aquilo que devemos nos apegar. A direção das nossas buscas mudaram quando fomos unidos a Ele na semelhança de sua ressurreição. Agora vivemos por princípios elevados. Somos chamados a pensar de modo radicalmente distinto do mundo e por isso não seremos compreendidos. Nossa forma de pensar foi alterada se fomos ressuscitados com Ele. Nossa vida ressurreta agora é de outra natureza, por isso devemos buscar as coisas do alto e pensar nas coisas do alto. Agora vivemos para Ele, vivemos na expectativa da manifestação dele. Paulo nos aponta para 3 aspectos da obra salvifica nesse trecho:
  1. Fomos ressuscitados com Cristo (passado), por isso devemos buscar as coisas do alto. Sabendo que sua ressurreição é garantia da nossa justificação.(justificação)
  2. Estamos guardados em Cristo (presente), por isso devemos pensar nas coisas do alto (santificação)
  3. Seremos manifestados com Cristo (futuro) por isso vivemos de forma elevada que condiz com a expectativa dessa manifestação (glorificação)

Do que precisamos afinal?

Fomos unidos a Ele na semelhança de sua morte e ressurreição de forma que nossa vida só tem sentido se há marcas de que morri para os poderes que outrora me dominavam, e ressurgi pelo poder de Deus e vivo para a glória dEle. Se há consciência de que a morte e a ressurreição reverteram os efeitos da queda. Eis aqui duas palavras muito caras a nós cristãos: Morte e Ressurreiçaõ. Somente uma coisa nos é necessária, o Cristo que morreu e ressuscitou no centro das nossas vidas. Nossa agenda por vezes é tornar nossa vida mais confortável, a agenda de Deus é "fazer convergir nEle todas as coisas" para "em todas as coisas ter a primazia". Ele é "o mistério que estivera oculto dos séculos e das gerações; agora, todavia, se manifestou aos seus santos;aos quais Deus quis dar a conhecer qual seja a riqueza da glória deste mistério entre os gentios, isto é, Cristo em vós, a esperança da glória. (Cl.1.26,27)

"Cristo em vós, a esperança da glória"


Pb Francisco Jr
IPB Emaús





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